sábado, 17 de outubro de 2020

Se ainda é possível reverter a extinção...


Sinto-me na obrigação de fazer veicular certas informações por mim absorvidas através da leitura de Internacionalismo ou extinção, de Noam Chomsky.

O primeiro capítulo do livro é a transcrição de palestra proferida pelo autor em 2016.

O evento ocorreu durante a campanha eleitoral nos EUA no mencionado ano e Chomsky demonstra estupefação ante a omissão de dois temas importantíssimos (que dizem respeito a toda a vida humana na Terra, já que estamos inclusive na iminência de ser extintos) nos debates entre aspirantes a ocupar o cargo de presidente do "país mais poderoso da história", nas palavras do próprio Chomsky, e que, por isso mesmo, tem papel preponderante no destino da humanidade em sua totalidade.

Se dependermos do jornalismo tradicional e de sua fria objetividade (o que também é observado pelo próprio Chomsky, ou seja, a objetividade fria do jornalismo) essas informações não chegam até nós, o que faz, dentre outras coisas, com que, como disse Wallace Shawn em diálogo com o autor, os ativistas pareçam idiotas, já que defendem pautas das quais o grande público muitas vezes não tem conhecimento.

São esses temas o risco real de uma guerra nuclear e o Antropoceno, que é a época geológica que sucede o Holoceno e "definida pelo extremo impacto humano sobre o meio ambiente". Mas, para "indicar melhor as causas do caráter destrutivo da época", já se propôs o termo "Capitalistoceno" - tanto Chomsky não está delirando, como alguns poderiam supor, que Déborah Danowski e Eduardo Viveiros de Castro também utilizam ambos os termos (Antropoceno e Capitaloceno, aqui com uma pequena variação na grafia, como se observa, mas conservando-se a semântica) no livro com o sugestivo título Há mundo por vir? Ensaio sobre os medos e os fins. Segundo os autores, inclusive, "é a primeira época geológica em que uma força geologicamente determinante é 'ativamente consciente de seu papel geológico'".

O Antropoceno, que como observam Danowski e Viveiros, "recebeu o 'nosso' nome", é um risco porque essa força geológica - a humanidade - de maneira suicida pode levar à extinção da nossa espécie - e também carregar outras para o fim, de bandeja. E isso devido ao fato de estarmos tornando o meio ambiente incompatível com a vida, sendo uma evidência disso o aquecimento global.

Voltando ao livro de Chomsky, do qual não chegamos a sair totalmente, infere-se também de sua argumentação a má destinação dos recursos. Se os HFCs - hidrofluorcarbonetos - "são gases de efeito estufa superpoluentes" presentes nos aparelhos de ar-condicionado muito utilizados na Índia, "onde o aumento do calor e da extrema pobreza" fazem desses aparelhos uma "necessidade desesperada", por que não se destina verba para ajudar a fazer a transição para aparelhos que utilizem energia sustentável, no referido país, ao invés de se gastar 800 bilhões de dólares para implantar um sistema de mísseis de "defesa", sendo que na prática esses "mísseis de defesa" são "basicamente armas de ataque inicial"?

Chomsky, no decorrer do livro, frisa muito a importância da conscientização e da responsabilidade de cada um, pois cidadãos conscientes podem pressionar governos a tomarem atitudes mais sensatas, como fazer com que os países façam adesão ao TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear) - e Chomsky adverte que isso não é utopia - e mesmo para aqueles que acreditam que Jesus está para voltar dentro de algumas décadas (40% da população dos EUA, de acordo com Chomsky), o ativismo é relevante e não entra em conflito com essa crença - pode-se argumentar, com o objetivo de dialogar com essas pessoas, que devemos desde já pavimentar a estrada que Ele irá percorrer, facilitando Seu trabalho. Afinal não se diz que Deus proferiu as palavras "Faça a sua parte, que eu te ajudarei"? Então as pessoas que têm fé, vão cruzar os braços e deixar a Divindade fazer tudo sozinha?

Propostas como as que Chomsky faz ao longo de todo o livro, como a de que nos mobilizemos, "precisam ser bem-sucedidas. Precisam, caso contrário, estamos condenados".

Ao menos desde Moby Dick tem-se a metáfora de que estamos todos no mesmo barco - e o barco está prestes a entrar em colapso.

Para finalizar com palavras do próprio Chomsky, "não podemos ignorar as realidades do mundo em que estamos vivendo".