quinta-feira, 10 de maio de 2012

Junk Book

Os romances norte-americanos contemporâneos costumam ser insossos, sem muita (ou com nenhuma) literariedade. É como se seus autores os escrevessem só para eles serem transpostos para a linguagem do cinema, e fizessem de tudo para facilitar essa transposição. Não ajuda muito se o romance é patrocinado pela Starbucks, como é A professora de abstinência, de Tom Perrotta (poderia ser feita uma pesquisa quantitativa de quantas vezes aparece a palavra Starbucks no romance, sempre seguida de enaltecimentos a essa marca de café).

Mesmo assim, a trama do romance em questão às vezes é divertida e o autor é habilidoso em construir personagens. Nada que exija muita capacidade intelectual, é verdade.

Apesar da citada habilidade em construir personagens, Tom Perrotta usa a personagem JoAnn para personificar a repressão sexual, e duvido que na realidade essa questão da repressão sexual seja assim tão explícita, mesmo num país tão infantil como os EUA, embora se possa esperar de tudo de um país como esse.

E, se se considerar a incitação a falar sobre sexo da qual fala Foucault em A história da sexualidade, não há nada de inovador, muito menos de revolucionário (coisa que nem de longe esse livro é), em A professora de abstinência.

Quanto a escrever romances pensando na transposição para o cinema, o autor (que já tem dois livros adaptados) nem disfarça sua intenção: nas últimas páginas, o enredo vai sendo conduzido para um grand finale, como nesses filmes americanos bobos, e quando a professora de educação sexual que é forçada a pregar a abstinência a seus alunos e, depois, por não se enquadrar no novo currículo, é informada de que vai passar a lecionar matemática, a personagem reflete: "(...) E quem sabe? Talvez o programa da Escolhas Inteligentes desse errado e daqui anos Ruth voltaria, vingada, para ensinar a verdade honesta sobre a sexualidade humana aos alunos ignorantes de Stonewood Heights. Na sua mente, seria como num filme de Hollywood: Michelle Pfeiffer parada na frente de uma plateia de adolescentes honestos e bonitos, colocando uma camisinha num pepino enquanto uma música triunfante tocava ao fundo." (além do trecho ser totalmente patético, coloca a professora como redentora e supõe, erroneamente, que os alunos não trazem conhecimentos de mundo prévios).

Apesar disso tudo, o livro vale como distração.

Mas fica a sensação de que falta tempero e ousadia na literatura norte-americana contemporânea.

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